Sobre gospel-stars, Roberto Carlos e ministérios
Por Ana Santos
Estamos num grande palco. Pregamos um evangelho de Tele Sena, onde você sempre ganha, seja no raspe aqui, com mais ou menos dízimo, digo, pontos. Nossos levitas esqueceram o que isso realmente significa. Estão mais para artistas do que para pessoas dispostas a servir na Casa do Senhor. São gospel-stars, cheios de vontades e estrelismos. Nossas igrejas vivem cheias de pessoas vazias, meros imitadores de modismos passageiros.
São muitos os ministros de louvor que levam multidões em eventos patrocinados por políticos, e políticos que encontram púlpitos livres para ludibriar uma dúzia de pessoas; mas, são poucos os que estão dispostos a bater na porta ao lado e falar ao vizinho funkeiro que Jesus não discrimina ritmo, e que Ele o ama. Não me assusta ver cantores cobrando R$ 45 mil por apresentação, mas me escandaliza encontrar igrejas que pagam por isso. Se for pra pagar, porque não contratar o Roberto Carlos? Aquele ali consegue lotar até um cruzeiro que é algo absurdamente caro, o que ele não faria numa igreja, não é?
Nunca foi fácil servir ao Senhor. Aquele que disse o contrário é um tremendo mentiroso. Pra começo de conversa, Jesus disse “aquele que quiser vir após mim, negue a si mesmo”. Putz, alguém sabe como é difícil negar a si mesmo? Renunciar as suas vontades, seus planos por reconhecer que os planos do Pai são melhores (mesmo sem saber quais são) não é tarefa fácil. Mesmo sendo difícil, é melhor caminhar pela estrada estreita do que aceitar as facilidades da estrada larga da perdição. Nos perdemos com muita facilidade ao corrompermos nossos valores, ao aceitarmos pregações vazias, artistas ao invés de verdadeiros adoradores.
Reconheço minhas fraquezas e poderia escrever 13 volumes de uma enciclopédia sobre meus defeitos e erros do passado. Mas algo que jamais quis foi demonstrar uma falsa comunhão com Deus. Nunca quis subir em púlpitos para pregar um evangelho de engano, de promessas fast food e vida cristã sem sacrifícios. Não tenho coragem de segurar um microfone para pregar se a minha vida não estiver dentro de um padrão mínimo de retidão. Conheço o Deus a quem escolhi servir e sei que para Ele não importa se eu estiver pregando para um milhão de pessoas, se houver uma a quem eu devo pedir perdão.
Meus sacrifícios, minhas palavras, minha adoração, tudo isso será vão se eu não fizer pela motivação certa – amor ao Senhor, amor pela obra e pelos perdidos. Quem não consegue amar aquele que está ao seu lado, como irá demonstrar verdadeira paixão pelas almas? Sua pregação será vazia, feita por vaidade para ganhar aplausos e não almas. Como eu posso desejar ir aos perdidos, se concordo em perder uma amizade por desencontros e pequenas desavenças?
Não quero fazer com esse texto uma metralhadora de acusações, mas não posso ver certas coisas e fechar meus olhos, fingir que não é comigo. Não posso me imaginar construindo um ministério semelhante a tantos outros doentes e ignorar que ele começa aqui em casa, se completa no trabalho e aperfeiçoa na igreja.
Ana Santos escreve no Escritora em Construção a coopera aqui no Protestadas