23.9.11

SAUDADE



Segundo o Wikipédia, “...melancolia causada pela lembrança;  mágoa que se sente pela ausência ou desaparecimento de pessoas, coisas, estados ou ações.” 


 William de Souza

Nós somos criaturas completamente despreparadas para a ausência das pessoas que amamos. Por alguma razão Deus pôs em nosso DNA a urgência de estar perto daqueles por quem nutrimos sentimentos fortes. Essa urgência é tão grande que acredito que o próprio Jesus experimentou a terrível presença da ausência, como já veremos.

Todos nós já sentimos saudades na vida. Todos sabemos como dói. É humano sentir falta de quem se ama, pois o amor pressupõe presença. Amar alguém que está longe provoca uma dor que não encontra palavras. 

Esse fenômeno acontece com todos os seres humanos. E com Cristo, o Filho do Homem, não foi diferente. Mateus 27.46 nos revela um dos momentos mais intrigantes da vida de Jesus de Nazaré. O Verbo encarnado, um dos integrantes da Trindade Santa, o Deus vivo vira-se para o Pai e brada em alta voz: “Eloí, Eloí, lamá sabactâni?”, que significa “Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?”. Que coisa fascinante! Você já parou para pensar nisso? O Agnus Dei, o Cordeiro de Deus, estava ali cumprindo o sacrifício estabelecido desde antes da fundação do mundo, algo que Ele sabia há milênios que ocorreria, num ato de amor que levaria à salvação de uma enorme parcela da humanidade, que reconduziria o homem caído ao seu Criador. Era simplesmente o ponto mais elevado e sublime da História. Nada mais natural então do que Jesus exultar naquele momento de vitória, de triunfo sobre a morte, o pecado e o inferno. Mas… não. De modo impressionante, imprevisto e aparentemente incompreensível o Messias vira-se para o Pai e, em vez de gritar “Vencemos!!!!”, brada “Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?”. Fascinante. Intrigante.


Eu durante muitos anos me perguntei o motivo de Jesus ter dito aquilo. Já ouvi milhões de explicações diferentes, já li livros que defendem teorias díspares, já escutei pregações esdrúxulas sobre o tema, já vi notas de pé de página de Bíblias de estudo tentando dar uma razão para esse fato. A justificativa que mais escutei, inclusive em seminário (não, eu não fiz seminário,mas já li livros de seminário do meu pai e conversei sobre), é que naquele momento o Pai viu todos os pecados da humanidade concentrados sobre Aquele que estava na cruz e por isso não suportou olhar para o Filho, “virando o rosto” e, com isso, “abandonou” Jesus. Mas essa explicação nunca me convenceu, perdoem-me os que creem nisso. Como poderia o Pai abandonar o Filho no momento máximo da trajetória da existência? Como o Deus onipresente do Salmo 139, sobre o qual o salmista afirma “Se eu subir aos céus, lá estás; se eu fizer a minha cama na sepultura também lá estás. Se eu subir com as asas da alvorada e morar na extremidade do mar, mesmo ali a tua mão direita me guiará e me susterá” estaria ausente naquele momento?

Não é revelação, não é profecia, anjo nenhum me contou, não é uma epifania, não se trata de um pensamento revolucionário. É apenas uma ideia – que, finalmente, me convenceu. Fez sentido. Para mim, o que houve naquele momento é que Jesus sentiu tanta saudade do Pai que a sensação da ausência lhe tocou tão fundo a ponto de fazê-lo sentir-se abandonado.
Aquele era o homem Jesus, que se desfez de toda sua Glória, era um homem sujeito a todos os sentimentos, assim como nós. Um homem que estava à 33 anos longe do Pai, vivendo numa terra estranha, onde todos no momento estavam querendo sua morte. Qualquer um nesse momento sentiria saudade casa, saudade do pai, qualquer se sentiria abandonado.
Eu me sinto abandonado quando as pessoas que mais amo no mundo estão longe, não dão notícias, quando estou numa situação complicada e não tenho seus ombros para chorar e seus conselhos para me nortear. Saudades puras. Eu me sinto abandonado quando quero abraçar os que amo e não posso. Saudades. Eu me sinto abandonado quando fico sem ver, tocar, conversar, caminhar ao lado, tomar café junto, ir ao cinema, segurar a mão ou simplesmente apreciar o sorriso vendo face a face.

Pura e simples saudade.


Há pouco mais de um mês minha mãe partiu para o Senhor. Quem já perdeu um ente querido sabe que a dor é grande, sabe como a saudade é grande e que em momentos temos dificuldades de entender a vontade de Deus. Só que hoje (23/09) a saudade bateu muito mais forte. hoje é meu aniversário e amanhã 24/09 seria o da minha mãe. O motivo da forte dor que a saudade me causou hoje, é que minha mãe sempre foi a primeira a me dar os parabéns e, no dia seguinte eu a ela. Era sempre à meia-noite ou de manhã bem cedinho, mas sempre ela, a primeira. Hoje acordei e até agora não escutei a voz dela me dizendo: “amôxêêê”, como sempre fazia. 

Como o coração aperta, bate uma saudade, uma vontade de gritar “Deus por que??”.   
Como eu disse, somos despreparados para a ausência. Hoje entendo isso.


Até Deus sabe como cada um de nós nos sentimos, ou você acha que Ele, mesmo com toda sua soberania, não sentiu dor quando seu único filho foi para o Calvário sofrer daquela forma?
Mesmo sendo Deus, Ele sabe como nos sentimos, afinal fomos criados a sua imagem e semelhança. Ele sabe como é ruim ser traído, rejeitado, negado, sabe como é ruim amar uma pessoa e ela estar longe de você, afinal, quantas pessoas nesse mundo não buscam a Deus como seu Salvador?


Agora, voltando ao Calvário, vamos nos colocar um instante no lugar do Cordeiro: crucificado, nu, humilhado, desglorificado, tratado como opróbio, solitário. Tente imaginar o seu sentimento naquele instante. Eu, em seu lugar, teria dito ao Pai: “Meu Deus! Meu Deus! Que saudades enormes de Ti!” Que saudades de casa “. Acredito que foi isso o que Jesus disse, mas com suas próprias palavras.


Saudade. Ah, que sentimento fascinante…


Paz a todos vocês que estão em Cristo.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. excelente exposição sobre saudade, e comparação com o "sentimento de Cristo"; justamente nas horas difíceis que mais abrimos nosso coração e mente ao entendimento espiritual, ficamos mais sensíveis ao Espirito Santo que para nossa consolação nos explica as "dores" da vida.

    Meus sentimentos, Foi uma grande perda pra nós! No entanto sabemos que descansa no Senhor e isso nos conforta.

    ResponderExcluir

Comenta! Elogia! Critíca! É tudo para o Reino!

Considere apenas:
(1) Discordar não é problema. É solução, pois redunda em aprendizado! Contudo, com modos.

(2) A única coisa que eu não aceito é vir com a teologia do “não toque no ungido”, que isto é conversa para vendilhão dormir... Faça como os irmãos de Beréia e vá ver se o que lhe foi dito está na Palavra Deus!
(3)NÃO nos obrigamos a publicar comentários ANÔNIMOS.
(5) NÃO publicamos PALAVRÕES.

“Mais importante que ser evangélico é ser bíblico” - George Knight .

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...